Carlos Sá

> Nome: Carlos Sá
> Idade: 38
> Distrito: Braga
> Treinador: Paulo Pires
> Idolos desportivos: Carlos Lopes
> Frase que mais te inspira: A dor é passageira e a gloria é eterna.


Trail de Portugal (TP) - Como todos sabemos, já viveste também uma vida desportiva na tua juventude, mas depois deixaste-te levar por hábitos sedentaristas, chegando a pesar mais de 90Kg e também a fumar, e em pouco tempo te tornaste num dos melhores ultra-atletas do Mundo. Que palavras de incentivo tens, para pessoas que já foram como tu foste, para voltarem a uma vida ativa?

Carlos Sá (CS) – 
Parem uns minutos e reflitam na vida que estão a seguir, vejam se realmente são felizes da forma como vivem.
O que acontece a determinada altura é que tentámos identificar-nos com aqueles que nos rodeiam e seguimos os seus hábitos, mesmo sabendo que estamos a prejudicar a nossa saúde e temos esse direito. Mas, não concordo quando somos pais e temos como obrigação educar bem os nossos filhos, incutir-lhes um estilo de vida saudável pelo menos até à sua geração adulta.
    Com o nascer do meu filho tive essa reflexão, foi esse momento em que decidi mudar de vida e em boa hora. No inicio foi muito duro mas os benefícios são de tal ordem e rápidos que nos preenche imenso. É como ter uma vida nova de repente.
    Não só eu mudei de vida como, em pouco tempo, a minha família também seguiu os meus passos. Tirando o meu pai, todos fazem desporto com mais ou menos intensidade, até a minha mãe que, com 60 anos passou de peso pesado a caminhar e correr diariamente.         
 


TP - Quais as sensações que sentes ao passar tão rapidamente a um dos melhores atletas do Mundo de ultra-maratonas e ser apreciado por tantas pessoas?

CS – É uma sensação muito boa mas só é possível à custa de um esforço, sacrifícios e determinação que poucos são capazes de imaginar. Não é uma obsessão, mas sim o acreditar em nós próprios, propormo-nos a grandes metas e trabalhar para as atingir, o que é muito gratificante.   
    Sei que muitas pessoas têm um carinho enorme por mim, isso dá-me ainda mais força nas horas difíceis a ultrapassar as adversidades e continuar passada atrás de passada.



TP - Visto que fazes provas de trail running de quase todas as distâncias, desde 20 até 200Km, qual é a verdadeira distância que preferes correr?

CS –  Gosto de Grandes desafios sejam eles de puro Trail, estrada, Desertos, bicicleta ou alpinismo. A distância é pouco significativa, mas onde me sinto mais confortável e acima dos 42km. 




TP - Tu que fazes tantas provas no estrangeiro, quais as diferenças entre grande parte das provas portuguesas?

CS -  Felizmente as provas Portuguesas estão a crescer, não só em numero de participantes, como no aspecto organizativo mas, mesmo assim, temos que ser cada vez mais exigentes de forma a atrair estrangeiros para as nossas provas é esse o salto que falta dar no Trail Português. Fiquei muito satisfeito quando no final do Grande Trail Serra D’Arga dois atletas vindos de Paris vieram dar-me os parabéns pela organização, dizendo que desconheciam que houvesse provas de Trail em Portugal com aquela qualidade.




TP - Quais os teus principais projetos desportivos para o ano de 2012?

CS – Marathon des Sables (250km), Ultra Trail do Mont Blanc (170km) e Spartathlon (246km). Ao nível que estou a correr tenho obrigatoriamente que estar nas grandes provas Internacionais, mas as classificações finais não me preocupam minimamente pois quero é continuar a superar-me cada vez mais. Tenho este enorme objectivo para este ano, mas de difícil conclusão devido à proximidade do UTMB e Spartathlon (apenas 4 semanas de intervalo). Seria brutal se conseguisse no mesmo ano fazer as mais emblemáticas ultra maratonas do Mundo e em ambientes completamente distintos (Deserto, Montanha e Estrada). Não sei mesmo se haverá alguém que já as tenha feito e a que nível.  




TP - Que esperas este ano para a Marathon Des Sables? Contas com mais apoios que o ano passado, que te permitam uma logistica mais sofisticada ou os apoios continuam a ser insuficientes?

CS -  Espero não ter problemas durante os sete longos dias, dar o meu melhor e no final logo se vê o resultado. É impossível tirar qualquer tipo de prognósticos nas ultra maratonas, muito menos na MDS.
    Felizmente há marcas como a Sportzone/Berg que dão valor ao esforço dos atletas Portugueses e este ano estão a apoiar-me financeiramente e na investigação/produção de novos materiais para dar resposta às minhas necessidades.
Obrigado Sportzone!


TP - E do Ultra Trail Du Mont Blanc? Esperas este ano conseguir fazer ainda melhor que como ano passado?

CS – Nunca depende só de nós os resultados. No ano passado nem fazia parte da lista de 30 melhores e nessa lista há muitos colegas que, em condições normais, me podem ganhar. Visto isto, resta-nos dar o nosso melhor e esperar que me consiga superar uma vez mais, mais que a classificação final, baixar da barreira das 22h era brutal.




TP - Relativamente à organização do Grande Trail Serra D'Arga, que esperas para a edição 2012? Alguma coisa será alterada ou acrescentada ao evento? Quais as expectativas para esta edição?

CS – Tenho para 2012 um enorme objectivo que é chegar aos mil participantes, não sei se será possível mas seria fantástico para a modalidade ter uma prova em Portugal com tal massa humana. Isso ajudaria à Internacionalização da mesma que é o meu grande objectivo.
    Vou manter os moldes do ano passado, apenas vou alterar o percurso pedestre por um mini-Trail/Marcha de +/-12km num percurso circular e em termos logísticos vai funcionar melhor, assim os participantes podem optar se querem fazer a correr ou a caminhar.




TP - Agora com a recente criação da associação Desnível Positivo e equipa Desnível Positivo/Sportzone, qual achas que será o contributo deste projeto para o trail running nacional?
 
CS – A Desnível está a dar os primeiros passos e fará o seu caminho com mais ou menos relevância, dependendo da dinâmica dos seus atletas e associados. Não é o Pedro Igor, Sá ou Fran que fará uma associação funcionar. Ela resulta de um conjunto de atletas sem representação de clubes que se juntam para este projecto partilhando a mesma paixão que é a corrida e o respeito pela Natureza.




TP - Depois de tanto sucesso, quais os teus sonhos no mundo do desporto?

CS – Tanto no desporto como na vida, ser feliz fazendo o que gosto e continuar a adiar os meus limites.




TP - Quais as pessoas e as coisas que te motivam a correr e em que é que pensas ao longo de provas tão longas e tão duras?

CS – O que me motiva não tem explicação. Só quem partilha a mesma paixão me poderá compreender pois, durante tão duras e longas provas, são tantas as coisas que me vem à cabeça que tento abstrair-me e manter a concentração, para estar atento aos sinais nos meu corpo e não cometer erros técnicos. 





TP - Que consideras da qualidade dos atletas de trail running e ultra-maratonas que atualmente têm surgido no desporto nacional?

CS – Do melhor que há na Europa e no Mundo. Somos bons em tudo o que fazemos e a prova disso são os resultados em todas as áreas desportivas e não só. Quando os Americanos dizem que não vingam no UTMB porque não tem na América grandes desníveis eu pergunto: se em Barcelos, com pouco mais de 400m de cota máxima eu consigo, porque é que eles não conseguem? É preciso sermos humildes e trabalhar mais que os outros para nos superar-nos.






Respostas Rápidas:

> Desporto: Aventura
> Atletismo: Um estilo de vida
> Trail: Sempre a crescer
> Montanha: Everest
> Dureza: A dor é passageira e a gloria é eterna.
> Site "Trail de Portugal": Continua com essa força o desporto precisa deste tipo de divulgação.

 

Obrigado Carlos Sá!